Depressão e ansiedade: como o psicológico afeta a imunidade?

Escrito por Lidia Capitani, Redação Minha Vida

Mudanças na rotina e no estilo de vida, problemas no relacionamento, sobrecarga no trabalho, provas, falecimento de pessoas próximas, prazos curtos para entrega de tarefas, privação de sono, contratempos financeiros e isolamento social. Vivemos em um mundo cheio de fatores que causam estresse até para as pessoas mais calmas.

De acordo com a psicóloga Elaine Di Sarno, sob situações estressantes, o ser humano reage como um animal e entra no estado de “lutar ou fugir”. Hormônios como adrenalina, cortisol e norepinefrina são liberados e preparam o corpo para a ação: o coração dispara, aumenta a frequência respiratória, os músculos se tensionam e as pupilas dilatam.

No entanto, o estresse em pequenas doses pode nos ajudar a lidar com situações do dia a dia, como para entregar uma tarefa com prazo curto ou falar em público. A questão é que o estresse crônico se torna um grande vilão e, para suportá-lo, algumas pessoas até desenvolvem dependência ao álcool, cigarro e cafeína, segundo a psicóloga.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o estresse atinge mais de 90% da população mundial. Porém, o mal-estar continuado e estímulos desagradáveis repetidos podem ter consequências sérias no corpo físico. Isso porque o esgotamento mental é capaz de causar lesões no tecido celular dos órgãos e pode até desenvolver doenças, diz o psiquiatra Alfredo Toscano.

Estresse e ansiedade diminuem imunidade

Quando estamos estressados, tanto nosso corpo quanto nossa mente se preparam para “hibernar”, de acordo com o psicólogo Ronaldo Coelho. “Nós ficamos demasiadamente sem paciência, sem energia para nenhuma tarefa nova, incomodados com qualquer coisa, porque estamos querendo fazer o mínimo possível só para nos manter socialmente vivos”, afirma.

O corpo e a mente devem ser entendidos como uma unidade indissociável corpo-mente, por isso, uma mente cansada se traduz num corpo cansado. Para entender como isso funciona, a área da medicina que estuda a influência do psicológico na imunidade concluiu que estressores físicos e emocionais iniciam conexões neuroendócrinas que afetam a resposta imune.

Ronaldo Coelho traz o exemplo das doenças autoimunes para exemplificar. “Pessoas muito ansiosas tendem a ter doenças autoimunes, como se o sistema imunológico estivesse tão em alerta que ‘bate’ até em quem não deve. Elas também tendem a ter problemas cardíacos e riscos de AVC, porque estão sempre funcionando a mil por hora”.

Nessa mesma linha, o psicólogo afirma que pessoas com depressão têm uma capacidade reduzida de combater um câncer. “É como se o sistema imunológico estivesse cansado demais para matar as células que nascem com defeitos e preferisse não fazer isso”, completa.

Toscano explica como estes sistemas corporais se relacionam. “O eixo que envolve a estrutura cerebral chamada hipotálamo e as glândulas hipófise e suprarrenal sofre influência do estresse crônico e também interfere no comportamento das células de defesa imunológica, podendo levar a doenças autoimunes, nas quais as células de defesa atacam o próprio organismo”.

Além disso, o estresse também pode acelerar processos inflamatórios e alérgicos e deixar a pessoa mais propensa a infecções. E a pessoa ainda pode desenvolver outros transtornos associados à predisposição genética.

Outra vertente da medicina e da psicologia que se dedica a estudar a influência do psicológico no corpo é a psicossomática. Nela, o estado psíquico perturbado por estresse, ansiedade ou depressão pode estar relacionado a certas doenças físicas, como câncer, ou a uma fraca resposta imune.

Psicossomática: o corpo fala

Existem duas maneiras de conceber a psicossomática, de acordo com o psicólogo Coelho: a primeira que entende o corpo e a mente como dependentes um do outro, de modo que “todo adoecimento físico possui sua dimensão psíquica e vice-versa”.

A outra vertente consiste no que Coelho chama de psicogênese das doenças. Nesta, entende-se que “processos mentais não resolvidos são canalizados para o corpo, o que é chamado de somatização”. A energia psíquica seria deslocada para o corpo por falta de recursos psicológicos para lidar na esfera do psiquismo.

Assim, o sistema nervoso central interage continuamente com o imunológico por meio de substâncias sinalizadoras, que se ligam a células receptoras nos dois sistemas. As citocinas, do sistema imune, são um exemplo de proteínas sinalizadoras, segundo explica o psiquiatra.

Essas substâncias atuam como autorreguladoras: ativam, mediam ou regulam a resposta imune total. “Elas influenciam até no aumento desordenado do número de células, como ocorre nas patologias oncológicas”, explica Toscano. Por isso, fatores estressantes podem adoecer os dois sistemas.

“Frequentemente, observo que pessoas com alto nível de irritabilidade, mas com pouca possibilidade de exteriorizar suas emoções, são mais sujeitas a explosões de raiva ou, pelo contrário, a contenção dos seus impulsos, a ponto de desenvolverem transtornos depressivos e quadros psicossomáticos”, exemplifica o especialista.

Como aumentar a imunidade

O acúmulo de situações estressoras pode levar a patologias, descritos pela psicóloga Elaine Di Sarno como insônia, ansiedade, fobias e depressão. Além disso, também leva a sintomas que comprometem a qualidade de vida, como:

  • Fadiga
  • Dor de cabeça
  • Tristeza
  • Agitação
  • Inquietação
  • Pensamentos acelerados
  • Irritabilidade
  • Dificuldade em se concentrar e falhas na memória
  • Perda ou ganho de peso
  • Insatisfação constante
  • Isolamento social
  • Má digestão.

A psicóloga alerta que o tratamento do estresse e mudança de estilo de vida são essenciais para evitar o adoecimento psicológico e, por consequência, o imunitário. Neste sentido, o psicoterapia é uma das saídas para ajudar o indivíduo a extravasar suas emoções.

“A pessoa aprende como lidar com suas emoções, se colocando como sujeito de sua própria vida, além de manter uma estabilidade que pode amenizar os sintomas de ansiedade, depressão, fobias e de doenças autoimunes”, esclarece Elaine.

Caso a doença psíquica ou física já tenha se manifestado, é importante buscar atendimento médico especializado, como um psiquiatra e outras modalidades de atenção na área da saúde, a fim de conseguir um diagnóstico e tratamento corretos.

A psicóloga Sara Resende destaca o valor de um cuidado multidisciplinar, com médicos, nutricionistas, psicólogos e atividade física, principalmente para doenças de fundo psicossomático.

De forma geral, é indispensável aprender a extravasar as emoções de forma saudável e manter uma rotina de autocuidado, para desenvolver maior consciência de seus próprios sentimentos e conservar o equilíbrio mental.

Deixe um comentário