A apresentação de uma pesquisa com um novo anticoncepcional masculino foi bastante aguardada no Encontro Anual da Sociedade de Endocrinologia dos Estados Unidos. E os resultados com o remédio, chamado de undecanoato de nandrolona (ou DMAU, na sigla em inglês), animaram em um primeiro momento.
Mais de 80 voluntários participaram do estudo. Por um mês, alguns deles receberam diferentes doses do contraceptivo, uma vez por dia, enquanto outros engoliram pílulas sem qualquer princípio ativo (placebo).
A partir daí, os cientistas notaram que doses mais elevadas de DMAU reduziram os níveis de testosterona e outros hormônios no corpo responsáveis pela produção de espermatozoides saudáveis. “Esses resultados não têm precedentes no desenvolvimento de uma pílula contraceptiva masculina”, diz Stephanie Page, endocrinologista da Universidade de Washington (EUA) uma das autoras do experimento, em comunicado à imprensa.
Urologista e diretor da Clínica Androscience, Jorge Hallak é menos otimista. De acordo com ele, métodos que focam no eixo hormonal trazem um risco de alterar para sempre a função dos testículos, o que levaria a uma infertilidade de difícil reversão, entre outras coisas.
“A gente vê algo parecido acontecer com o uso inadequado de anabolizantes ou de testosterona nas academias”, afirma Hallak. “Homens que utilizam essas substâncias acabam se tornando inférteis com o tempo”, arremata.
Ele, no entanto, afirma que as pesquisas com anticoncepcionais masculinos estão avançando e, em breve, podem trazer ainda mais novidades. “Há outros contraceptivos em testes com mecanismos mais modernos, capazes de colocar uma venda nos olhos do espermatozoide, assim por dizer”, analisa.
Ou seja, a substância alteraria receptores da célula reprodutiva masculina que não a deixam se ligar ao óvulo. Isso sem mexer com os hormônios ou os testículos, em teoria.
Especificamente sobre o DMAU, Stephanie Paige ressalta que, na sua investigação, poucos homens reportaram sintoma de deficiência ou excesso de testosterona, diferentemente de outro composto que chamou a atenção em 2016. Entre os efeitos colaterais, notou-se uma ligeira diminuição no colesterol bom, o HDL, e ganho de peso. Além disso, 17 participantes abandonaram o levantamento.
Como nada grave foi identificado, os estudos devem avançar, agora com mais homens, e por um período maior de tempo. “Realmente, um mês de acompanhamento é pouco tanto para verificar a eficácia quanto a segurança”, opina Hallak.
O recado é que ainda temos anos a nossa frente antes de vermos uma pílula anticoncepcional masculina. Porém, os experimentos estão avançando.
Fonte: Saúde Abril