O câncer de pâncreas segue como um grande desafio para a medicina. Por crescer e se espalhar rapidamente e ser de difícil detecção, ainda apresenta alta taxa de mortalidade. Entretanto, pesquisadores da Mayo Clinic, nos Estados Unidos, encontraram uma luz no fim do túnel. Eles identificaram um método simples que levantaria suspeitas sobre a presença de um tumor pancreático em estágio inicial: bastaria medir o nível de glicose no sangue.
De acordo com dois estudos conduzidos por esse time, publicados no periódico Gastroenterology, as taxas de glicemia sobem consideravelmente de dois a três anos antes da identificação dessa doença pelos exames tradicionais. “Nossos trabalhos trouxeram alguma esperança na detecção do câncer de pâncreas ainda nos estágios iniciais da doença, quando é reversível”, afirma Suresh Chari, gastroenterologista da Mayo Clinic, em comunicado à imprensa.
Mas por que é tão difícil flagrar esse tumor? Segundo Carlos Eduardo Barra Couri, endocrinologista da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), uma das razões é que o pâncreas fica, digamos, escondido em meio a outros órgãos. Com isso, é complicado pegá-lo nos primeiros passos mesmo com testes de imagem.
Além disso, os sintomas de sua presença – pele amarelada, urina escura, perda de peso – só costumam dar as caras quando a enfermidade já avançou bastante.
Como foram feitas as pesquisas. E o que tirar delas
O primeiro estudo foi dividido em duas partes. Os experts começaram analisando os exames de glicemia realizados nos cinco anos anteriores ao diagnóstico de câncer de alguns pacientes. Então, compararam-nos com os de um grupo controle, formado por pessoas com idade e sexo semelhantes aos dos enfermos. Aí concluíram que, de 30 a 36 meses antes do reconhecimento do tumor, os níveis de açúcar no sangue já começaram a subir.
Nesse mesmo trabalho, os cientistas averiguaram as taxas de glicose de quase 600 pacientes pouco antes da remoção cirúrgica do câncer. Ao cruzarem esses dados com o tamanho dos tumores, notou-se que, quanto mais elevada a glicemia, maiores os nódulos malignos.
Já no segundo estudo, os pesquisadores da Mayo Clinic desenvolveram um modelo chamado de “Pontuação ENDPAC”. Ele identificaria um subconjunto de indivíduos com diabetes MODY (um tipo desse problema que atinge pessoas abaixo dos 25 anos, com forte componente genético) que apresentam um risco 30 ou 40 vezes maior de sofrer com um tumor pancreático.
“Acreditamos que, se essas descobertas forem validadas em outros estudos, pacientes com altos níveis de glicose e da Pontuação ENDPAC deveriam passar por exames completos para verificar a presença de um câncer de pâncreas”, conclui Chari.
Mas atenção: é cedo para encarar a glicemia como uma forma de detecção precoce do câncer de pâncreas. O recado é conversar com um médico sobre eventuais resultados alterados desse exame – até porque isso sugere a presença do diabetes.
O diabetes e o câncer de pâncreas
“O diabetes eleva o risco de câncer de pâncreas, assim como o câncer de pâncreas pode provocar diabetes”, esclarece Couri. Segundo ele, diabéticos normalmente também são obesos, que é um fator de risco para o tumor. Fora isso, as alterações provocadas pela própria doença no pâncreas poderiam converter células saudáveis em malignas.
Na outra via, o câncer de pâncreas vai abalando o funcionamento desse órgão. Com isso, ele deixa de produzir insulina suficiente para colocar a glicose dentro das células. Resultado: o açúcar fica sobrando nas artérias – é o diabetes.
Esse fato ajuda a explicar por que a glicemia de um paciente conseguiria antecipar o diagnóstico do câncer de pâncreas, como sugerem os estudos que mencionamos.
Fonte: Abril