Não é surpresa que a principal diferença entre os três tipos de leite encontrados no mercado diz respeito ao teor de gordura encontrado em cada um – o que, claro, interfere também no seu peso calórico. Para ter ideia, enquanto a versão integral apresenta a gordura em uma proporção de 3%, a semidesnatada tem de 0,6 a 2,9% do nutriente. Já o tipo desnatado possui menos de 0,5% de gorduras.
Falando assim, parece óbvio que o desnatado deveria ser o eleito para compor a dieta no dia a dia. Mas a verdade é que não deveríamos focar apenas em calorias e gordura – mesmo que ela seja saturada, cujo excesso é associado a um maior risco cardíaco.
Para a nutricionista Marcia Gowdak, diretora do Departamento de Nutrição da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp), se o indivíduo nunca teve um problema cardiovascular, seu perfil de colesterol está dentro dos conformes e ele tem uma dieta equilibrada e sem tanta gordura, não há motivo para tirar o leite integral da rotina. Até porque a gordura saturada desse alimento não é de um tipo que só eleva o colesterol LDL, considerado ruim. Ela também dá uma forcinha para aumentar o colesterol HDL, com efeitos positivos no organismo.
Antonio Herbert Lancha Jr., professor de nutrição da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo (USP), concorda com Marcia. “Não dá para transformar o leite integral em vilão”, afirma. O que vai definir pra valer a qualidade da dieta é o conjunto dos alimentos consumidos ao longo do dia. Agora, quem se entope de outras fontes de gorduras saturadas – como queijos, carnes vermelhas e ovo –, precisa repensar esse balanço mesmo.
Tem outra coisa. “Uma das funções da gordura é proporcionar saciedade”, lembra Marcia. Então, quem seleciona o leite desnatado sem pensar duas vezes pode, pouco após o consumo, já sentir a fome bater. E, ao restringir demais a gordura, não raro as pessoas acabam abusando de outros nutrientes. Só que, dentro do corpo, esse exagero também leva à formação de gordura.
Lancha Jr. acrescenta mais um argumento que joga contra o leite desnatado: “Quando se retira a gordura, reduz-se o aporte principalmente das vitaminas A e D”, conta. É verdade que o Ministério da Saúde recomenda o acréscimo desses nutrientes à bebida – e muitas marcas de fato fortificam seus produtos desnatados. Mas, segundo ele, a absorção pode ficar prejudicada e mais lenta.
Com base nesses pontos, a opção semidesnatada em geral seria a mais vantajosa, já que tem gordura (mas não muita) e mais sabor do que o leite desnatado. Porque não adianta ser magrinho e não dar prazer nem matar a fome, certo?
Um raio-x dos tipos de leite
Integral
Aqui, a gordura marca presença – está em uma proporção de 3%. Por causa dela, as vitaminas A e D, conhecidas como lipossolúveis, são preservadas. Tem 120 calorias por copo de 200 mililitros.
Semidesnatado
Tem de 0,6 a 2,9% de gordura, para sermos exatos. Isso dá entre 1,2 e 5,8 gramas por copo. Soma 85 calorias.
Desnatado
É o leite mais enxuto, com menos de 0,5% de gordura – o que dá, no máximo, 1 grama em um copo. Fornece 60 calorias. Mas as vitaminas A e D nem dão as caras. Por isso, o Ministério da Saúde recomenda o acréscimo desses nutrientes à bebida.
Fonte: Saúde Abril