Como identificar o abuso de álcool na terceira idade?

Há uma dificuldade da sociedade em identificar diretamente o padrão e a quantidade de consumo de álcool não prejudiciais na terceira idade, uma vez que as informações tanto científicas como da mídia estão voltadas mais para o consumo abusivo de álcool (alcoolismo) entre jovens do que em idosos.

A literatura científica sugere, em linhas gerais, que o consumo de bebidas e os seus problemas associados entre idosos tende a ser menor do que aquele manifestado pelos jovens. Entretanto, alguns estudos que seguem sua amostra ao longo do tempo apontam para o fato de os idosos manterem o padrão de consumo de álcool estável com o passar dos anos e pesquisas feitas em serviços de saúde têm encontrado prevalência crescente de alcoolismo entre idosos.

 

Os fatores mais comuns relacionados à associação entre o consumo de álcool e o envelhecimento são:

  • A incidência de fraturas de quadril entre idosos aumenta com o consumo de álcool
  • Acidentes automotivos são uma importante causa de trauma e morte em todos os grupos de idade, mas os motoristas idosos tendem a ficar mais lesionados do que os motoristas jovens em acidentes de mesma magnitude
  • Em média, um sujeito de mais de 65 anos faz uso de dois a sete medicamentos por dia. O uso de álcool associado com a medicação, fato comum na terceira idade, aumenta o risco de surgimento de efeitos colaterais negativos e de influência na efetividade do remédio
  • Os transtornos depressivos são mais comuns entre os idosos e tendem a ocorrer concomitantemente com o uso indevido de álcool. Segundo dados do National Longitudinal Alcohol Epidemiologic Survey, dentre as pessoas com 65 anos de idade ou mais, os alcoolistas apresentam risco três vezes maior de manifestar depressão do que os não-alcoolistas

Outro aspecto limitante na identificação de idosos em relação ao abuso de álcool é que eles são mais reservados na hora de relatar, durante as consultas, seus hábitos e excessos com esta substancia. Principalmente porque a autoavaliação a respeito de um padrão excessivo é permeada por aspectos subjetivos de comportamentos que podem ser considerados hábitos e por preconceitos sociais a respeito do assunto. Além do que, fatores sócio demográficos também podem influir no abuso do álcool, tais como: violência, abandono, isolamento, depressão, outras doenças, dificuldades econômicas entre outros.

Com relação ao padrão de consumo do álcool, o termo “uso abusivo” ou “de risco” é empregado para indicar um padrão de utilização que expõe o sujeito a maior propensão a prejuízos físicos e psicológicos. Para uma pessoa com 65 anos ou mais que seja saudável e que não esteja fazendo uso de medicamentos, o National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism (NIAAA)* recomenda que não beba mais de três doses** por dia para evitar problemas, sendo que não se deve ultrapassar sete doses por semana. Ademais, para a Sociedade Americana de Geriatria, o consumo de cinco ou mais doses de álcool em uma mesma ocasião é definido como “beber pesado episódico” (BPE).

Em relação ao grupo de idosos, segundo diversos autores, há uma necessidade de diminuir o limiar diagnóstico para detectar o uso abusivo de álcool e implementar programas de tratamento consistentes com suas necessidades específicas. As análises transculturais podem estimar melhor a prevalência global, compreender a amplitude do problema e as diferenças entre regiões desenvolvidas e em desenvolvimento.

O alcoolismo e o uso abusivo de álcool podem acelerar o processo normal de envelhecimento do cérebro, por exemplo, acelerando, respectivamente, a perda de tecido cerebral e aumentando a diminuição de massa dos lobos frontais. Ele está geralmente associado com problemas físicos, psicológicos e mentais. Também leva a uma maior tendência do desenvolvimento de uma pior imagem de si mesmo (baixa autoestima), aumento de idas ao médico, menor satisfação com o(a) parceiro(a) e uma diminuição das relações sociais do que os abstêmios.

Tratamento

Estratégias educacionais podem ser preventivas e auxiliares na identificação e na diferenciação de padrões comportamentais sociais e abusivos que possam trazer riscos à saúde do idoso. Os tratamentos em equipe multidisciplinar e psicoterapêuticos podem beneficiar e ajudar a reduzir o abuso.

Por outro lado, os idosos dificilmente reconhecem o uso de álcool como um problema e por esse motivo não aderem a um tratamento direcionado. Tomar consciência do problema permitiria ajudar muito a combater o vazio terapêutico existente no tratamento do alcoolismo entre os idosos. O tema do uso do álcool por idosos deve ser redefinido com novos limites, novos critérios diagnósticos e novos instrumentos de acompanhamento.

Fonte: Minha vida

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