É comum pensar que, com o tempo, todo mundo fica pelo menos um tiquinho surdo – personagens de filmes e programas de televisão ajudaram na construção desse conceito. Mas, segundo a ciência, quem faz boas escolhas na alimentação provavelmente será um bom ouvinte por décadas a fio. “Perder a audição parece algo inevitável, só que nossos achados sugerem fortemente que não é assim”, afirma a médica Sharon Curhan, da Universidade Harvard, nos Estados Unidos.
Ela e seus colegas acompanharam a dieta e a capacidade auditiva de quase 80 mil mulheres durante cerca de duas décadas. Os resultados, publicados no periódico científico Journal of Nutrition, mostram que dietas saudáveis diminuem em até 30% a possibilidade de os ouvidos pifarem com o passar dos anos. “Trata-se de uma redução significativa”, ressalta Sharon.
Para analisar que tipo de prato teria mais influência na história, os pesquisadores compararam o menu diário das participantes com três estilos famosos de cardápio: a dieta mediterrânea, a Dash (Abordagem Dietética para Frear a Hipertensão, na sigla em inglês) e o Ahei (Índice Alternativo de Alimentação Saudável, também na sigla anglofônica) de 2010. Símbolos de equilíbrio, os três demonstraram potencial para barrar falhas moderadas e severas na capacidade de ouvir.
Outros estudos já haviam encontrado resultados semelhantes, como um levantamento feito na Universidade da Flórida, nos Estados Unidos. Ao avaliar 2 366 pessoas, os cientistas descobriram que a audição de quem ficava exposto a ruídos intensos, mas comia de um jeito bacana, era similar à de pessoas que viviam em ambientes mais silenciosos, porém seguiam uma dieta pobre, com altas doses de gordura, sal e açúcar.
Para entender esse elo, é preciso saber que escutar é um processo complexo. Ele começa com neurônios modificados chamados de células ciliadas, que “nadam” em um líquido dentro do ouvido interno, pouco distante do buraco da orelha. Essas estruturas, que parecem filamentos, transformam os impulsos mecânicos do som em sinais elétricos, que, por sua vez, viajam pelos nervos ao cérebro. Só lá eles são compreendidos como palavras, músicas, risadas… Ocorre que essa jornada ouvido adentro depende da saúde do organismo como um todo para tocar em sintonia.
“A perda auditiva adquirida é o resultado do acúmulo de vários fatores, como fluxo de sangue comprometido, falta de oxigenação, danos provocados pelos radicais livres, inflamação e neurodegeneração”, explica Sharon. E uma alimentação balanceada é capaz de atenuar todas essas agressões.
É o caso da dieta mediterrânea – para ficarmos em um exemplo citado pelo estudo -, que prega o consumo abundante de azeite, hortaliças, peixes e oleaginosas, com pouco espaço para carne vermelha e doces. “Ela já é conhecida por prevenir o encolhimento do cérebro em idosos e reduzir o risco de obesidade e doenças cardiovasculares“, contextualiza Jacqueline Moniz Anversa, nutricionista que atua na capital paulista.
Já a Dash prioriza vegetais, gorduras mono e poli-insaturadas, consideradas benéficas, além de orientar a redução no uso de sal e gordura saturada, cujo exagero ameaça o coração. A abordagem é indicada para os hipertensos, mas não só.
O ouvido, que tem uma circulação consideravelmente mais fina e sensível que a dos órgãos maiores, acaba tirando vantagem do seu poder de reduzir a formação de placas de gordura nas artérias. “Elas dificultam o abastecimento de sangue para a região e a chegada de nutrientes, hormônios e oxigênio necessários ali”, detalha a pesquisadora de Harvard.
Fora que as doenças que podem ser evitadas com esses cardápios, como diabetes tipo 2 e hipertensão, estão ligadas a quedas no desempenho cerebral. Ou seja, a própria transmissão da mensagem capturada pelas células nervosas do ouvido acaba comprometida depois de anos de esbórnia alimentar.
Os grupos de alimentos que fazem a diferença para a integridade dos ouvidos
Frutas: Seus pigmentos, como os carotenoides do mamão e da laranja, são protetores da orelha. Coma duas porções ao dia.
Peixes: Eles contêm gorduras consideradas benéficas, a exemplo do ômega-3, com reconhecida atividade anti-inflamatória.
Oleaginosas: Fora terem gorduras vantajosas, carregam zinco, mineral que é ótimo para o sistema nervoso e, logo, para a audição.
Folhas verde-escuras: O ácido fólico presente nelas é um dos compostos mais estudados por seus préstimos ao ouvido.
Água: O sistema que recebe os sons externos é banhado por um líquido que depende de água para se manter atuante.
Fonte: Saúde Abril