Apesar de ainda vermos alguns teimosos por aí, o protetor solar é figurinha carimbada das malas de quem vai passar as férias na praia ou vai curtir o sol do verão. Mas, com a chegada dos meses mais frios do ano, a história é outra. “Como no inverno não sentimos calor, as pessoas acreditam que não há grande risco em se expor sem o produto”, explica o dermatologista Marcus Maia, professor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, na capital paulista. O problema é que o perigo existe, sim, e a responsável por ele é a radiação UVA.
A encrenca com os raios UVA começa com a falta de informação: há certo desconhecimento sobre eles. Enquanto o UVB é mais predominante no verão do que na estação do frio, o UVA incide o ano inteiro e também ao longo de todo o dia. “Antes das 10 e depois das 17 horas, o horário em que teoricamente seria permitido tomar sol livremente, o UVA continua sendo emitido e, como não queima, durante muito tempo achou-se que ele era inofensivo”, expõe o dermatologista Sérgio Schalka, da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Justamente por passar despercebido, o UVA tem potencial para causar mais estragos à pele. “Como os filtros solares antigos protegiam dos raios UVB, o indivíduo podia ficar mais tempo ao ar livre sem risco de vermelhidão. Enquanto isso, o UVA atingia a derme”, explica o dermatologista Marcus Maia. No inverno, essa ameaça ainda ganha outro componente. “Muitas famílias viajam para o campo e buscam o sol para se aquecer. Mas em locais com altitude elevada o índice ultravioleta sobe”, alerta Maia. Com o caminho livre para essa radiação, os problemas começam a pipocar.
O perigo mais grave é o câncer de pele melanoma, variedade mais agressiva dos tumores que acometem o tecido. “Ele tem maior potencial de alcançar outros órgãos, já que se instala em uma camada mais profunda da derme”, aponta Maia. Uma das maneiras de flagrá-lo é ficar de olho em pintas e feridas. Se elas mudam de formato, aumentam de tamanho ou os ferimentos não cicatrizam, é melhor procurar um dermatologista. Esse tumor é um dos poucos que se pode evitar. Basta se resguardar da maneira adequada. “Teoricamente, ele não deveria nem existir”, opina Maia. Mas não é só o UVA que fomenta a moléstia: as queimaduras causadas pelo UVB estão por trás do câncer não melanoma, bem mais comum e que também precisa ser prevenido e acompanhado de perto.
Além de barrar perigos tumorais, usar protetor em todas as estações garante uma aparência jovial por décadas a fio. “Quando o UVA penetra na derme, chega até as fibras de colágeno, que sustentam a pele, causando assim um aspecto envelhecido”, explica Maia. Sem contar que as manchas não dão pinta quando nos besuntamos com o produto o ano todo. “De alguns anos para cá, os estudos mostram que o uso regular do filtro solar para tratar e preveni-las é até mais importante do que a aplicação apenas na praia”, aponta Schalka. Vale lembrar que moramos em um país onde o astro rei brilha a toda mesmo no inverno.
Proteção o ano todo
Para garantir que a radiação ultravioleta passe batida, o primeiro conselho é conhecer bem seu tipo de pele. Além do tom, é importante consultar o dermato para ficar por dentro dos fatores de risco, que vão de cor dos olhos a histórico familiar. No cotidiano, o protetor não deve ser esquecido. Daí a necessidade de passá-lo ao menos uma vez pela manhã. Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia, o FPS mínimo indicado é 30, independentemente da cor da pele.
Outro ponto crucial é a quantidade: para o rosto, por exemplo, é necessário meia colher de chá. Lembrete: nuca e pescoço não estão imunes à radiação – filtro neles. Dessa forma, a pele permanece bonita e saudável no verão, na primavera
Como o FPS é calculado?
Os laboratórios expõem voluntários (ou pele artificial) a uma luz que simula a do sol durante determinado período com quadradinhos posicionados na pele em área sem o protetor e outra com o produto. Depois, é feita uma conta que divide o tempo que a vermelhidão demorou para aparecer nos dois locais.
Como os raios solares afetam sua pele
Infravermelha (atinge a epiderme): essa radiação é responsável pelo calor que emana do astro rei. Acreditava-se que o único inconveniente dela é a sensação de ressecamento e uma eventual desidratação. Mas estudos recentes têm mostrado que ela aumenta o risco de doenças e envelhecimento da pele.
UVA (atinge a camada subcutânea): esses raios penetram nas camadas mais profundas da pele sem deixar marcas, causando envelhecimento precoce e o melanoma, um tipo agressivo de câncer.
UVB (atinge a derme): são eles que provocam a vermelhidão e as queimaduras solares. Além disso, também estão diretamente relacionados ao câncer de pele não melanoma, o mais comum dos tumores nesse tecido.
Luz visível: É toda a luz que conseguimos enxergar, incluindo a artificial. Embora menos intenso, seu efeito cumulativo lembra o dos raios UVA.
UVC: esse tipo de radiação é o mais nocivo. Na teoria, provocaria queimaduras graves e catapultaria o risco de tumores. Mas não se preocupe: ele fica retido na camada de ozônio.
Fonte: Abril